Vale a pena investir e cuidar da manutenção dos jardins do condomínio, valorizando as áreas comuns e o bem-estar dos moradores.
Jardim das paisagistas Gabi Pileggi e Luciana Bacheschi: plantas funcionam como um refúgio de paz dentro da cidade
Você já ouviu falar de biofilia ou arquitetura biofílica? Trata-se de valorizar a presença das plantas nos ambientes (além de outros elementos, como o uso de materiais naturais seja na construção ou na decoração, e na potencialização da iluminação natural e da ventilação cruzada). “Nós pertencemos à natureza, precisamos estar em contato com tudo que é natural e belo. Então o conceito da biofilia tornará todo projeto de arquitetura, interiores ou paisagismo ainda melhor”, acredita a paisagista Gabi Pileggi, que participou da última CASACOR São Paulo, a mais completa mostra de arquitetura, paisagismo e design de interiores das Américas, junto com Luciana Bacheschi, também paisagista. No evento, que aconteceu este ano no Conjunto Nacional, icônico edifício paulistano, a dupla apresentou o Jardim Sereno, um refúgio de paz e contemplação em plena Avenida Paulista, com mais de 25 espécies nativas e exóticas.
As paisagistas enfrentaram o desafio de compor um espaço somente com vasos, já que o Conjunto Nacional, tombado pelo Condephaat – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo, tem limitação de algumas alterações, o que estimulou a dupla a apostar na genuinidade da madeira, das pedras e do barro para dar forma ao Jardim Sereno.
Mas o que você, caro síndico que nos lê, pode levar como inspiração para seu condomínio a partir das ideias apresentadas em uma mostra de paisagismo e decoração? Primeiro, que é possível ter um belo jardim qualquer que seja a área disponível e a realidade do condomínio. E que, como em outras áreas comuns, é preciso se cercar de profissionais capacitados. “Indico aos síndicos preferencialmente optar por uma empresa que conte com funcionários registrados. Uma das coisas mais importantes ao falarmos em paisagismo é ter constância das pessoas que olham pelo seu jardim. Todo jardim tem um histórico. Por isso é muito importante ter um jardineiro responsável que faça esse acompanhamento”, aponta Gabi.
O paisagista João Jadão, vice-presidente da Associação Nacional de Paisagismo (ANP), reforça também aos síndicos que verifiquem a área de atuação da empresa contratada, checando se está apta a fazer apenas manutenção básica ou também um controle mais técnico da área, incluindo adubação, irrigação e controle de pragas. “É preciso compreender que o jardim é um patrimônio de todos os condôminos. Portanto, é necessário que ele seja bem cuidado. Ao procurar uma empresa de paisagismo, verifique quem é o responsável pela mesma e pelo projeto. Se puder, confira quais outros projetos já foram feitos por eles e peça referências”, orienta Jadão, que também esteve presente na última CASACOR São Paulo, com o Mirante Paulista, um jardim lúdico, que enaltece e acompanha os contornos da arquitetura modernista do Conjunto Nacional, desenvolvido com a arquiteta e paisagista Catê Poli.
Vasos do espaço de João Jadão e Catê Poli na CASACOR São Paulo: escolha as espécies em função da insolação onde estará o vaso
A síndica profissional Betina Soldatelli concorda com os paisagistas quanto ao cuidado na contratação dos responsáveis pelo jardim e pondera: é preciso estar atento para a periodicidade das manutenções. “Assumi há pouco um condomínio com oito anos de vida e logo me chamou a atenção o estado das plantas: mantas de drenagem aparecendo, pedriscos espalhados, espécies sem poda correta, o jardim todo bagunçado. Havia um jardineiro contratado que ficava no prédio duas vezes por semana e não resolvia. Por isso troquei o fornecedor e passei para uma empresa que trabalha no esquema de mutirão. Os funcionários ficam no condomínio os dias necessários para finalizar todo o jardim”, conta a síndica.
Serão dois meses com foco na manutenção geral, para depois começarem as melhorias e reorganização de canteiros. “Procuro sempre reaproveitar o que for possível, por exemplo, trocando plantas de lugar”, diz Betina, que também costuma implantar sistemas automáticos de irrigação, com timer para gestão de horário de rega, nos prédios em que assume a sindicatura. “É ótimo para economia de água e para otimizar a mão-de-obra. Conforme o tamanho do condomínio é preciso um funcionário o dia todo para regar os jardins a um custo alto. Para instalar o sistema é necessário um ponto de água e eventualmente uma bomba, mas os próprios manutencistas têm condições de fazer”, explica.
Nos prédios que administra, Betina Soldatelli costuma instalar sistemas de irrigação automática. Na foto, sistema misto de mangueira de gotejamento e microaspersor.
Betina percebe que em muitos condomínios onde chega como síndica profissional não há um olhar dedicado aos espaços verdes. “Não há identidade visual no paisagismo. É comum existirem canteiros que são nitidamente coletivos. Os moradores costumam doar plantas que estão sobrando no apartamento. Ou seja, vira um carnaval de plantas.” Há quase oito anos atuando como síndica profissional, a gestora acredita que é preciso muito tato para lidar com os gostos pessoais dos moradores. “Até plantas podem gerar conflitos”, pontua.
Gabi Pileggi complementa que é importante escolher as espécies observando se o jardim terá zonas de contemplação e outras de uso comum. A segurança também deve ser levada em conta. Em prédios com fachadas de vidro, ao mesmo tempo em que alguns preferem plantar espécies grandes, para aumentar a privacidade, tem que se considerar a visibilidade da portaria. “Há pontos estratégicos em que não se pode atrapalhar a visão do porteiro. Outra questão é que, em áreas ensolaradas, as plantas podem queimar ao lado dos vidros, que refletem o sol. Por isso, próximo aos vidros prefira plantas mais resistentes, como espécies de climas desérticos, rustificadas”, recomenda a paisagista.
Matéria publicada na edição 293 set/2023 da Revista Direcional Condomínios
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