Lazer – os condomínios necessitam planejar o espaço destinado às crianças

Cano, cachorro, criado, carro, crianças. Os chamados cinco “cês” dos condomínios costumam causar polêmicas e atritos na convivência entre os moradores. Mas sempre há caminhos possíveis para trazer paz e tranquilidade para a comunidade, principalmente em se tratando de crianças. Afinal, o que querem nossos pequenos? Espaço para brincar, afirmam até mesmo os especialistas em educação. Para Maria Irene Maluf, pedagoga especialista em Educação Especial e Psicopedagogia, os condomínios necessitam planejar o espaço destinado às crianças. “Além do cuidado com a escolha dos locais, é preciso adaptá-los às questões de segurança, de higiene e definir os brinquedos de acordo com a faixa etária dos usuários, prevendo ainda a manutenção rotineira e a reposição de alguns materiais”, orienta.

Vânia Dal Maso, gerente geral de atendimento de uma administradora que atende a 435 condomínios, observa que “criança ocupada não gera problemas”.

Vânia percebe que a rotina dos pais que trabalham fora o dia todo leva as crianças a descerem desacompanhadas para as áreas de lazer. Com as crianças ocupadas com a escola e atividades extras, os problemas crescem nas férias. “Quando elas se juntam em grupo, saem tocando a campainha dos apartamentos ou passeando nos elevadores”, aponta. Uma opção que costuma dar certo é a eleição do síndico-mirim. “Já acompanhei até assembleia entre crianças para eleger seu representante. Era um condomínio com muitos problemas envolvendo as crianças, especialmente na faixa etária entre oito e 12 anos, e foi preciso chamá-los à responsabilidade. O síndico-mirim não deve ser o dedo duro que delata os colegas, mas aquele que orienta o porquê não devem pular no elevador ou esvaziar o extintor. Recomendo sempre para prédios com muitas reclamações relacionadas aos pequenos”, comenta a gerente.

ATIVIDADES MONITORADAS

Para os condomínios-clubes, com muitas opções de lazer, a saída é a contratação de empresas especializadas em atividades físicas e recreação infantil.

“As empresas orientam as atividades infantis, criam torneios esportivos e são a melhor saída para condomínios com muito espaço para as crianças. Mas, como se trata de uma fatura que todos os moradores irão pagar, tendo ou não filhos, essa iniciativa deve ser aprovada em assembleia”, orienta.

A professora de Educação Física Juliana Crepaldi é sócia de uma empresa que promove atividades visando a qualidade de vida em empresas e condomínios e afirma que é possível atuar até em edifícios com espaço limitado. “Já prestei serviços em condomínios com pouca estrutura, que nem quadra tinha. Tudo depende do número de participantes, mas até mesmo o salão de festas pode ser usado.” Para crianças com até dez anos ela recomenda atividades recreativas, e para os maiores de dez, prática esportiva nas diversas modalidades. O grande desafio acontece nas férias, sustenta Juliana: “Trabalhamos para deixar mais produtivo o tempo livre das crianças.”

A pedagoga Maria Irene Maluf concorda com Juliana e completa: “É possível entreter e ensinar com pouquíssimo material e em um espaço relativamente desprovido de adaptações, dependendo é claro da idade das crianças e da exigência de um adulto por perto. Existem tapetes de borracha, quadros imantados, lousas, livros, quebra-cabeças, instrumentos musicais simples, sucatas, massinha de modelar, jogos em geral, que todas as crianças adoram e que um profissional especializado sabe explorar de modos inusitados.”

Mas é claro que nada dispensa um bom playground – além de agradar as crianças, um espaço com brinquedos atualizados valoriza o edifício. César Pinto, síndico do Edifício Plaza Monjardino, com dois blocos e 148 apartamentos na Vila Sônia, zona Sudoeste de São Paulo, levou para a assembleia a aprovação de verba extra para a reforma do playground do condomínio. “Temos ainda os brinquedos de madeira originais do prédio. E a principal queixa das mães é que eles estão instalados sobre a grama, que se transforma em terra durante a brincadeira, além de não oferecer segurança.” Na reforma, serão instalados brinquedos de plástico e 150 metros quadrados de piso de borracha, mais seguro.

No Quintas do Morumbi, condomínio com 50 mil metros quadrados de área total situado na zona Sul, sendo 35 mil de área verde, os 14 pontos com quiosques, bancos e brinquedos de madeira recebem atenção constante. Afinal, o condomínio é praticamente uma minicidade, com 644 apartamentos divididos em 11 torres. Meticuloso, o síndico geral Riccardo Ravioli tem o número exato de crianças moradoras: 100 na faixa etária de zero a quatro anos, 123 de cinco a oito e 145 de nove a 12 anos. A estrutura de lazer é completa: são duas brinquedotecas (uma para os pequenos de zero a quatro anos e outra destinada para cinco a nove anos), quadra coberta e piscina descoberta e coberta aquecida.

Skate e bicicleta são proibidos. Uma empresa contratada é responsável pela assessoria esportiva e de lazer. Há aulas de ballet, judô, natação e futebol e festas nas datas comemorativas, como Páscoa, Halloween, Dia das Crianças e Natal. “Se temos que advertir uma criança, é porque o responsável que a acompanhava tomou alguma conduta errada. Na verdade temos mais trabalho com os pais do que com as crianças”, esclarece Riccardo.

Conforme a pedagoga Maria Irene, no condomínio, diferentemente de uma escola, as crianças estão em suas casas e não se sentem na obrigação de obedecer a alguém. “Por isso, é importante que algum adulto que costume tomar conta dela esteja presente, nem que seja esporadicamente”, arremata.

HORA DE FESTA!

Comemorar datas como o Dia das Crianças, Festa Junina, Halloween e Natal é sinal de sucesso entre os pequenos. No Condominium Club Ibirapuera, em Moema, com 272 apartamentos e uma população estimada de 300 crianças, as festas já são tradição. O gerente Carlos Tadeu Machado conta que no dia das crianças, por exemplo, o condomínio aluga brinquedos, contrata barraquinhas com guloseimas e atrações como teatro de fantoches e escultura de balões. “Alguns moradores reclamam do barulho, mas a maioria compreende”, afirma o gerente, para quem as crianças não são problema no cotidiano da administração.

“Já vi muita criançada virar adolescente enquanto estou aqui. É preciso diálogo para um bom relacionamento.”

Além do condomínio na Vila Sônia, César Pinto é presidente da Associação dos Amigos de Terras de Santa Adélia, condomínio horizontal com 392 lotes e 60 casas em construção em Vargem Grande Paulista, e também aposta nas festas como momento de interação entre os moradores e alegria para as crianças. Este ano aconteceu a primeira comemoração do dia das crianças no Santa Adélia. “Nada melhor do que criança para aproximar as pessoas.” Para César, as festas têm um custo muito baixo e, caso o condomínio não possua verba aprovada, podem ser pagas com a venda de ingressos e patrocínios.


Matéria publicada na edição 151 out/10 da Revista Direcional Condomínios

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