ESG + DEI: do mundo corporativo para o condominial

Conceitos de gestão que estão presentes em grandes
empresas podem valorizar a gestão do síndico, bem como contribuir para conscientização ambiental e social de quem mora ou trabalha em condomínios

Neste 2025, que tal introduzir novos parâmetros de gestão com o conceito ESG + DEI? Esse aglutinado de letrinhas serve para orientar, valorizar e avaliar o desempenho no mundo corporativo. Já no condominial, pode despertar a conscientização social e ambiental para a adoção de medidas e ações positivas. Primeiro, vamos às siglas. ESG ( Environmental, Social and Governance) com tradução em português quer dizer Meio Ambiente, Social e Governança; e DEI (Diversity, Equity and Inclusion) significa  Diversidade, Equidade e Inclusão. DEI faz parte do pilar Social de ESG.

No pilar Meio Ambiente, por exemplo, alguns procedimentos de gestão de resíduos nos condomínios reduzem o impacto ambiental, como a adoção de coleta seletiva de lixo e compostagem comunitária. “Implantamos lixeiras específicas e áreas para compostagem, reduzindo o volume de resíduos enviados a aterros”, conta a síndica profissional Lena Mota. “Em condomínio menores, os síndicos podem incentivar a separação de resíduos, e nos grandes, promoverem programas robustos de reciclagem e parcerias com cooperativas locais”, sugere. “Muitas vezes o condomínio já possui programas de reciclagem, de descarte correto do óleo usado, mas as pessoas, às vezes, esquecem disso. O síndico precisa, então, relembrar os moradores por meio de uma comunicação eficaz”, comenta Bernardo Abdalla, diretor de marketing da AABIC e presidente de uma grande administradora de condomínios da capital paulista.




Bernardo Abdalla, diretor de Marketing da AABIC:

medidas sustentáveis
valorizam o condomínio

Foto Divulgação

Outras soluções aplicáveis ao pilar Meio Ambiente envolvem redução do consumo de água e energia elétrica. “Um condomínio menor pode investir em medidas simples, como sensores de presença para iluminação e campanhas de conscientização para economia de água, já um maior, se comportar, em sistemas de energia solar ou reutilização de água da chuva”, menciona Lena. Também o mercado livre de energia é uma fonte sustentável e mais econômica, mas ainda não está disponível a todos os condomínios, como bem observa Bernardo: “A migração de energia cativa para o mercado livre só pode ser feita para o condomínio classificado como grupo A , que é de média e alta tensão”. Segundo ele, condomínios que focam em medidas sustentáveis de consumo de água e luz reduzem seus gastos, com consequente redução na taxa condominial, o que o torna mais interessante ao setor imobiliário.

Já o pilar Governança foca na administração ética e na transparência da gestão, tanto na questão financeira quanto na tomada de decisões. “É crucial implementar um sistema de feedback para que os moradores saibam o que está sendo feito, e possam expressar suas preocupações e dar sugestões”, fala Bernardo.

Foto Giovanna Calomino

Sobre os pilares Diversidade, Equidade e Inclusão, Lena Mota diz serem fundamentais para a convivência harmoniosa em qualquer comunidade, incluindo os condomínios. “Realizamos informes mensais para moradores e funcionários sobre a importância de respeitar diferentes culturas, idades, gêneros e orientações. Também incentivamos empresas terceirizadas a adotar processos seletivos mais inclusivos, dando oportunidades a pessoas de diferentes origens e com deficiência”, ilustra a gestora.

Uma cultura inclusiva integra os pilares Diversidade, Equidade e Inclusão, sendo que no pilar Inclusão estão as minorias (leia-se grupo Étnico-racial, Pessoas com Deficiência, LGBTQIA+ e Mulheres). Para explicar de modo mais claro o conceito, Paulo recorre a uma analogia ensinada nas grandes empresas: “Diversidade é você reconhecer as minorias, os grupos, as comunidades, e reconhecer a própria formação étnica da sua raça.  Diversidade é você dar uma festa para todas as pessoas, incluindo o grupo de minorias. Inclusão é você tirar alguém desse grupo para dançar; esse pilar é norteado por respeito e empatia. Equidade é fazer com que todos sejam tratados de forma equalitária”.

No condomínio que Paulo administra, as minorias têm vez. “Temos representantes da comunidade LGBTI+, de grupos étnicos, temos mulheres em posição de comando”.  Para ele, o pilar Inclusão é o mais difícil de manter porque é preciso assegurar o tempo todo que não haja preconceito, xingamento ou piadinha envolvendo membros da equipe e até moradores. “Implantamos tolerância zero contra moradores que maltratam funcionários”, comenta.  

Além do conceito DEI, existem outras questões que podem trabalhadas em condomínios dentro do pilar Social. “O síndico pode atuar para que haja melhoria da convivência e fortalecimento do senso de comunidade. Em alguns condomínios, promovemos eventos para aumentar a interação entre todos”, conta a síndica Lena. Campanhas de arrecadação de brinquedos ou agasalhos também fazem parte desse pilar. Bernardo Abdalla, da AABIC, avalia que numa campanha exitosa ganha o síndico, pois a ação ocorreu em seu mandato, ganha o morador, que encontrou uma destinação bacana para seus pertences, e ganha quem recebeu o objeto doado.

Campanhas sempre são incentivadas no condomínio Domínio Marajoara, como a de doação de sangue, que ocorre anualmente. “Nós disponibilizamos um salão e fazemos a comunicação no condomínio. Nos últimos dois anos, o hospital Albert Einstein enviou uma equipe para a realizar a coleta de sangue”, conta Paulo. Ele acrescenta que os moradores são muito solidários. Cita que pelo fato de o condomínio dispor de grande área livre, muitas vezes acaba sendo ponto de arrecadação de donativos de outros condomínios e empresas da região para posterior distribuição, como aconteceu durante a tragédia no Rio Grande de Sul. “Um condômino que possui transportadora cedeu parte da frota e assim pudemos enviar quase 40 caminhões repletos de roupas e alimentos. Alguns foram direto para o Sul, outros, até terminais de aviões, pois fizemos contato com empresas áreas. Isso é o Social, é se mobilizar”, conclui o síndico.




O síndico orgânico
Paulo Fontes
implantou
‘tolerância zero’
para moradores que destratarem trabalhadores do condomínio

Foto Almir Almeida

Paulo Fontes, síndico orgânico e profissional do Domínio Marajoara, localizado na zona sul de São Paulo, está à frente de um condomínio-clube com sete torres, onde habitam cerca de 600 famílias e trabalham 160 pessoas. O conceito DEI faz parte de sua gestão, iniciada dez anos atrás, e nem poderia ser diferente, afinal Paulo trabalha em uma multinacional americana, onde é executivo de TI, mas também exerce uma atividade voluntária como membro do Comitê de Diversidade, que dá apoio ao RH da empresa.  “Somos um país com enorme diversidade étnica; gestores de uma empresa ou de um condomínio precisam fomentar essa representatividade na contratação de pessoas ou junto às terceirizadas”.

Matéria publicada na edição-307-jan/25 da Revista Direcional Condomínios

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