Sobre a origem dos sons e ruídos: A situação dos condomínios verticais

O que dizem as normas técnicas sobre o desempenho e a acústica das edificações.

Fonte: Pró-Acústica – Manual sobre a Norma de Desempenho

Ruídos de fontes diversas gerados no interior das unidades autônomas dos condomínios verticais provocam constantes desconfortos aos usuários, e não deixam de representar como uma manifestação patológica, que poderia ter sido evitada se tivesse sido contemplada nas fases de projeto e execução da obra.
É importante pontuar aqui a diferença entre som e ruído – O som é uma percepção sensorial e, o ruído, é visto como um som indesejado.
Para melhor identificar em decibel cada tipo de som ou ruído temos exemplos expostos na tabela a seguir.

Tabela 01 – Som e nível sonoro (Ruído)

Fonte: Ferraro, N.G (Em “Os Fundamentos da Física”, 2003)

Os ruídos nas edificações podem ser transmitidos pela estrutura e paredes divisórias, quando, por exemplo, ocorre a movimentação de elevadores; há o acionamento de bombas; usuários caminhando; objetos caem; móveis são arrastados. Há, ainda, os ruídos gerados pelas instalações hidrossanitárias (IH) embutidas na alvenaria, sob as lajes e em shafts.
Para as edificações aprovadas a partir de 2013, essa situação deveria ser atenuada pelo atendimento às normas técnicas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), sendo a norma de desempenho a responsável pelas mudanças no mercado da construção civil, enfatizando o desempenho dos sistemas e materiais quanto à acústica (conforme as citaremos ao longo deste texto).
Mas, para prosseguir no assunto, vamos entender a origem e a forma como ocorrem ruídos que são perceptíveis aos usuários das edificações.

Tipos de ruídos
Conforme descrito no Manual da Pró-Acústica, temos as descrições dos tipos de ruídos, que são eles:
Ruído aéreo: Transmissão de ruído entre duas unidades habitacionais sobrepostas em uma edificação. Esse se produz através do próprio piso, elementos laterais ou paredes;
Ruído de impacto: Transmissão de ruído entre duas unidades habitacionais sobrepostas em uma edificação, que se produz através do próprio sistema de piso;
Ruído de equipamento: Sons provenientes de equipamentos de uso coletivo em uma edificação, como bombas de recalque e circulação, ventilação mecânica, aquecedores de água, elevadores e portões de garagem, entre outros, que são transmitidos por via aérea e estrutural.

Transmissão de ruído aéreo
A transmissão entre duas unidades habitacionais sobrepostas decorre do próprio sistema de piso (via de transmissão direta) e dos elementos laterais ou paredes (vias de transmissão indireta).
Devido a isso, o desempenho de isolamento ao ruído aéreo entre dois ambientes separados por um sistema de pisos de um edifício (identificado pelo parâmetro DnT,W) é geralmente inferior ao desempenho do mesmo sistema de piso ensaiado em laboratório (Rw).

Ilustração 02 – Sentidos diversos de transmissão de ruído aéreo

Fonte: Pró-Acústica – Manual sobre a Norma de Desempenho
Legenda:
– Rw – Índice de redução sonora ponderado (laboratório);
– DnT, W – Diferença padronizada de nível ponderada (Vedações verticais e horizontais internas, em edificações).
Para melhor ilustração de solução para ruído aéreo entre piso, podemos considerar o exemplo genérico descrito na ABNT NBR 15.575/2013 (Norma de desempenho), para exemplificar os elementos construtivos de uma laje.

Ilustração 03 – Sistema de piso (ABNT NBR 15.575/2013)

Fonte: NBR 15.575-3 (ABNT, 2013)

Formas de transmissão de ruídos
São elas:

  1. Transmissões diretas: São aquelas em que o som passa diretamente por uma parede que divide dois ambientes;
  2. Transmissões indiretas ou laterais: Essas ocorrem quando o som passa de um ambiente a outro por estruturas da edificação que não uma parede divisória;
  3. Transmissões parasitas: Devem-se às falhas/defeitos em determinados locais e ocorrem, em geral, devido à falta de vedação correta, como em fissuras em paredes ou falhas na instalação de janelas e similares.

Ilustração 04 – Diferentes tipos de transmissão de ruído aéreo

Fonte: Litwinczik (2013)

Já a transmissão sonora entre espaços é gerada por sob via adjacentes, laterais, diretas e fendas, envolvendo diversos aspectos, como espessura de lajes mais esbeltas; espessuras de alvenarias (internas e externas); e esquadrias de alumínio sem desempenho acústico apropriado.

Ilustração 05 – Som X Ruído

Fonte: Pró-Acústica – Manual sobre a Norma de Desempenho

Como evitar problemas
As incorporadoras e construtoras precisam se preparar para atender às exigências da norma de desempenho, a ABNT NBR 15.575/2013, e da norma de acústica, a ABNT NBR 10.152/2017, exigências essas que devem ser repassadas aos empreiteiros, fornecedores de materiais e executores de obras.
Além dos ruídos gerados pelas edificações, temos os ruídos externos provenientes do aumento da cidade, devendo também os incorporadores e construtores elaborarem um mapa de ruído da região, para que os projetistas façam as especificações corretas dos materiais a serem empregados.
Assim, temos a importância dos mapas de ruídos para efeitos de:

  • Organizar a expansão da cidade, evitando novos pontos de problemas;
  • Avaliar as populações afetadas, criar estatísticas e elaborar planos de ação;
  •  Estudar os impactos causados pela poluição sonora;
  •  Promover ações para gestão e redução desses impactos;
  •  Melhorar o planejamento do espaço urbano, ou corrigir problemas de poluição sonora, facilitando avaliações de projetistas e consultores da área.

Por exemplo, a cidade de São Paulo aprovou a Lei 16.499, de 20 de julho de 2016, para a elaboração do Mapa do Ruído Urbano. Essa legislação define que:
“Art. 1º – Fica o Poder Executivo Municipal obrigado a elaborar o Mapa do Ruído Urbano da Cidade de São Paulo, conforme diretrizes fixadas nesta lei.
Art. 2º O Mapa do Ruído Urbano é uma ferramenta de apoio às decisões para o planejamento e ordenamento urbano com vistas à gestão de ruído na cidade, com identificação de áreas prioritárias para redução de ruídos e preservação de zonas com níveis sonoros apropriados. ”

Para prosseguir nessa análise, é importante expor os parâmetros que serão utilizados em termos de simbologia com relação aos índices de ruídos, apresentados na tabela abaixo.  Eles dizem respeito aos Parâmetros Acústicos de Verificação – ABNT NBR 15.575 – Parte 4.

Tabela 02 – Parâmetros Acústicos de Verificação (ABNT NBR 15.575/2013)

Fonte: ABNT NBR 15.575-Parte 4 (pág.30)

Ruído no Ambiente Interno
Já a tabela a seguir demonstra a influência da DnT, W sobre a inteligibilidade da fala para ruído no ambiente interno em torno de 35 dB a 40 dB.

Tabela 3 – Inteligibilidade de fala X isolamento sonoro

Fonte: Adaptado da Associaton of Australian Acoustical Consultants, 2010
Legenda: DnT, W – Diferença padronizada de nível ponderada

O conforto acústico deve ser obrigatório para garantir aos usuários que tenham tranquilidade e descanso nas suas residências, devendo ser observados os seguintes aspectos:

  • Nível de ruído adequado, garantindo a privacidade de cada usuário;
  • Ambiente tempo de reverberação adequado (eco);
  • Não permitir tonais audíveis (assobio, zumbidos);
  • Não permitir variações bruscas de nível perceptíveis ao longo do tempo (passagem de automóveis, aviões, elevadores, motores, etc.);
  • Distribuição uniforme do som ao longo do espaço.

De outro modo, o isolamento ao ruído aéreo de sistemas de vedações verticais internas (SVVI) prevê a instalação ou existência de:

  • Paredes entre unidades habitacionais autônomas (paredes de geminação) nas situações onde não haja ambientes dormitórios (≥ 40 dB);
  • Paredes entre unidades habitacionais autônomas (paredes de geminação) no caso de pelo menos um dos ambientes ser dormitório (≥ 45 dB);
  • Paredes cega de salas e cozinhas entre uma unidade habitacional e áreas comuns de trânsito eventual, tais como corredores e escadarias nos pavimentos (≥ 30 dB).

Como isolar os ruídos aéreos
O isolamento aos sons aéreos (sons transmitidos através do elemento separador) depende das caraterísticas do elemento separador, nomeadamente da massa, da rigidez e do amortecimento interno.
A caraterização deste desempenho é feita pelo índice de isolamento aos sons aéreos (Rw), calculado segundo a Norma EN ISO 717-1:2013.
O efeito isolante do elemento separador provoca uma perda de pressão sonora que varia consoante a frequência do ruído em questão.
vedação vertical é responsável pelo fechamento da edificação e pela compartimentação dos ambientes internos. Esta, por sua vez, pode ser executada através da vedação convencional com blocos de concreto, cerâmico ou fechamento dos ambientes com gesso acartonado (dry-wall).

Desempenho acústico em uma edificação
O desempenho acústico de um elemento de uma edificação depende das especificações e características dos materiais constituintes, espessuras e execução, sendo alterado pela qualidade das interfaces com outros elementos construtivos e pelas esquadrias, como também pelos componentes de fechamento de aberturas nela contida.

Vedações externas
As paredes duplas são formadas por dois painéis simples com uma caixa de ar entre elas. A caixa de ar pode estar total ou parcialmente preenchida por material absorvente sonoro. As paredes duplas podem ser divididas em dois tipos principais:
• Paredes duplas de alvenaria: pano de alvenaria + caixa de ar + pano de alvenaria;
• Paredes duplas mistas: pano de alvenaria + caixa de ar + painel leve;

Materiais absorventes
Há ainda a possibilidade de se aplicar materiais de absorção sonora e amortecimento em paredes duplas. Entre eles, destacam-se as superfícies rígidas sobre um suporte rígido e, ainda, os materiais absorventes clássicos, que admitem passagem de fluxo de ar (materiais de célula aberta) e podem ser porosos ou fibrosos.
Relativamente aos materiais porosos, a energia sonora é dissipada sob a forma de calor por múltiplas reflexões das ondas sonoras nos poros dos materiais.
Como exemplo de materiais de célula aberta, citam-se as mantas de lã mineral, a espuma rígida ou flexível de poliuretano e o poliestireno expandido.
Atualmente, os materiais com maior consumo para aplicação em caixas de ar em paredes duplas são:
– Lã mineral;
– Lã de vidro; e,
– Lã de rocha.
A lã de rocha é composta por partículas de rocha basálticas ou outras, e a lã de vidro é feita a partir da sílica.
Temos ainda a opção de preenchimento de blocos cerâmicos ou concreto, com materiais inovadores para obter o desempenho acústico. Por exemplo, há o preenchimento de blocos com material chamado vermifloc, com a composição de agregado natural produzido a partir da exfoliação em 700 graus Celsius do mineral vermiculita; esse material atende às determinações por norma, com a vantagem de não perder área e acréscimo da mão de obra com execução de paredes duplas.

Conclusão
As paredes simples não possuem um leque tão variado de soluções, pelo que se trata de um campo de aplicação com menor número de soluções tecnológicas disponíveis e, portanto, com maior possibilidade de expansão e investigação.
Tal como para as paredes simples de alvenaria, também as soluções de parede dupla de alvenaria analisadas apresentaram uma grande variabilidade de espessuras, massas superficiais e custo total.

Anexo 01 – Informações complementares
A ABNT NBR 10.152/2017, publicada em 24/11/2017, está disponível desde então para consulta e compra no site da ABNT. Essa norma é um documento técnico (“Acústica – Níveis de pressão sonora em ambientes internos a edificações”), que descreve procedimentos para execução de medições de níveis de pressão sonora em ambientes internos das edificações. Ela estabelece níveis de ruído para conforto acústico, determinando os níveis de ruído máximos admissíveis nos ambientes de acordo com sua utilização.
Em vigência está também a ABNT NBR15.575/2013, contemplando o desempenho de todos os materiais e sistemas aplicados na construção civil. Ela determina, para atendimento à NBR 10.152/2017, os níveis de desempenho acústico para cada um dos sistemas construtivos, devendo atenuar a transmissão dos ruídos gerados internamente e externos às edificações.
Portanto, de acordo com a norma NBR 15.575/2013, o desempenho acústico deve atender a toda a edificação, como: lajes de coberturas, equipamentos prediais, impacto de piso, fachadas, alvenaria interna (ambientes), instalações hidrossanitárias. Esse desempenho será avaliado em níveis mínimo, intermediário e superior, devendo ser consultadas as tabelas para cada sistema construtivo. Uma síntese das necessidades completas é apresentada na figura ilustrativa que abre esse texto, extraída do Manual da Pró-Acústica.

Anexo 2 – Principais fontes de ruído em uma edificação, conforme descrito no Manual da Pró-Acústica, para as diversas fontes e possibilidades

  • Sistemas de pisos: A norma estabelece limites de ruídos, entre unidades autônomas (lajes), devendo ter um isolamento acústico para ruídos aéreos (passos de pessoas, conversações, queda de objetos etc.);
  • Instalações, equipamentos prediais e sistemas hidrossanitários: A norma estabelece limites de ruídos em dormitórios;
  • Sistemas de vedações verticais internas (paredes): A norma estabelece limites de ruídos, entre unidades autônomas, sendo executadas com blocos cerâmicos, blocos de concreto e até mesmo gesso acartonado (Drywall), devendo ter um isolamento acústico para ruídos aéreos (musicas, TV ligada, conversações etc.);
  • Sistemas de vedações verticais externas (fachadas): A norma estabelece limites de ruídos, entre dormitórios do exterior, sendo executadas com blocos cerâmicos, blocos de concreto e entre outros métodos construtivos, devendo ter um isolamento acústico para ruídos aéreos (tráfego, aviões, trens, fábricas etc.);
  • Sistemas de coberturas: A norma estabelece limites de ruídos, para as fachadas e coberturas, devendo ter um isolamento acústico para ruídos aéreos (tráfego, aviões, trens, fábricas etc.), importante que ao existir área de lazer coletivo na cobertura, os cuidados devem ser maiores, contemplando ruído de impacto de piso.

Referências Bibliográficas
-NBR 15575-4: Desempenho de edifícios habitacionais de até cinco pavimentos ─ Parte 4: instalações hidrossanitárias. Rio de Janeiro, 2013. 31 p.
– NBR 10152: Acústica — Níveis de pressão sonora em ambientes internos a edificações. Rio de Janeiro, 2017, 21 págs.
– BARING, J. G. de A. Isolação Sonora de Paredes e Divisórias. A Construção São Paulo, São Paulo, SP, n.º 1937, edição de 25.3.85
– BISTAFA, S. R. Acústica Aplicada ao Controle de Ruído. In: BISTAFA, S.R. (Ed.). Acústica Aplicada ao Controle de Ruído.  São Paulo: Blucher, 2011
– BLOCO cerâmico. 1 il. color. Disponível em: <http://www.selectablocos.com.br/alvenaria_vedacao_produtos_9cm_01.html>. Acesso em: 12 set. 2016
– Ferreira, A.R.P.C – Dissertação em Soluções Técnicas para Isolamento Sonoro de Edifícios de Habitação – outubro, 2007 (Lisboa, PT)
– ISO. “ISO 10052 Acoustics ‒ Field measurements of airborne and sound insulation and of service equipment sound ‒ Survey method”.2004.
– ISO. “ISO 16032 Acoustics ‒ Measurement of sound pressure level from service equipment in buildings. Engineering method”. 2004.
– LIMA, Kelly Ramos de; DOURADO, Janaina Borges; OLIVEIRA, Larissa Barbara de. Estudo Comparativo de Sistemas de Redução de Ruídos em Tubulações de Esgoto. 2012. 113 f. TCC (Pós-Graduação) ‒ Curso de Patologia na Construção Civil, Pós-Graduação, Instituto IDD, São Paulo, 2012
– LIMA, K. R. de. Estudo de Eficácia de Soluções para Atenuação de Ruído em Instalações de Esgoto Sanitário. 2016. 166 f. Dissertação (Mestrado) ‒ Curso de Habitação, IPT, São Paulo, 2016
– PIERRARD, J. F.; AKKERMAN, D. Manual Pró Acústica sobre a Norma de Desempenho. São Paulo: Pró-Acústica – Associação Brasileira para a Qualidade Acústica, 2013. 32 slides, color, 25 cm x 19 cm
– PIERRARD, J. F.; AKKERMAN, D. Manual Pró-Acústica para Classe de Ruído das Edificações Habitacionais. São Paulo: Pró-Acústica Associação Brasileira para a Qualidade Acústica, 2013. 32 slides, color, 25 cm x 19 cm


Matéria complementar da edição – 237 – agosto/2018 da Revista Direcional Condomínios

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Autor

  • Kelly Ramos de Lima

    Engenheira Civil graduada pela Universidade Santa Cecília dos Bandeirantes (UNISANTA); tem experiência de 23 anos em construtora de alto padrão na cidade de São Paulo. Possui mestrado em Habitação, pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), com o tema “Dissertação: Estudo de Eficácia de Soluções para Atenuação de Ruído em Instalações de Esgoto Sanitário”. É ainda pós-graduada em Patologia das Edificações, pelo Instituto IDD Curitiba, e em Gestão de Projetos, pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), de SP. É diretora técnica da Vistum Consultoria. Atua também como síndica profissional.

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