Era só um ar condicionado. E bastou para gerar mais uma tragédia brasileira com fogo

Síndicos e condôminos: Lembrem-se que toda instalação elétrica tem limites e que reformas elétricas precisam ser feitas com profissionais habilitados.

Na sexta-feira 8 de fevereiro, o Brasil amanheceu diante de nova tragédia. Dez jovens jogadores da categoria de base do Flamengo, de carreiras promissoras, foram carbonizados em um incêndio supostamente originado em um condicionador de ar. Quais lições podemos tirar de mais este triste acontecimento, assim como das catástrofes de Brumadinho e Mariana, ambos em Minas Gerais, do incêndio e desabamento do Edifício Wilton Paes, em São Paulo, e de tantos outros?

A Engenharia está sendo deixada de lado. O “jeitinho brasileiro” tem sido cada vez mais usado, porém, há limites para esta brincadeira, que nada mais é do que o descaso com as boas práticas. Estamos brincando com a nossa segurança. Achamos um absurdo o que ocorreu em Mariana e Brumadinho, viramos especialistas no mesmo momento que a informação foi detectada, acusamos os profissionais que assinaram laudos que não apontavam a realidade do risco.

Já em relação ao alojamento do Centro de Treinamento do Flamengo, os comentários foram: – Como se pode instalar pessoas em alojamentos sem ventilações? – Como um clube pode instalar sistemas de ar condicionado que pegam fogo e colocam em risco as pessoas?

Entretanto, esquecemos que fazemos isto diariamente sempre que deixamos de contratar um projeto elétrico para fazer um “puxadinho de tomadas” em nossa casa; afinal, costuma se pensar, “são só duas tomadas a mais”!. Fazemos isto ainda quando não contratamos profissionais qualificados e atualizados para avaliar se podemos comprar um micro-ondas, um aquecedor ou mesmo o secador de cabelos. Aliás, secador e micro-ondas vêm com um plugue de diâmetro maior justamente indicando que a sua potência é grande e requer uma tomada compatível!! Mas preferimos usar aquele adaptador que o “cara da loja” disse que não tem problemas.

Será que temos agido diferentemente do presidente do Flamengo ou da Vale quando achamos um absurdo, por exemplo, um projeto elétrico custar R$ 2 mil, mas gastamos R$ 4 mil para comprar um novo aparelho de celular? Ou quando contratamos um profissional “baratinho” para instalar todo nosso sistema de energia elétrica, pedimos desconto pagando R$ 4 mil ao mesmo tempo em que gastamos R$ 10 mil por um aparelho de TV que será ligado àquela tomada prevista pelo projeto elétrico?

Será que agimos diferente dos moradores do Wilton Paes, quando pegamos um benjamim e ligamos o micro-ondas, o forno elétrico e a geladeira, economizando alguns trocados para não chamar um profissional para redimensionar e instalar mais tomadas, de forma adequada?

Foi exatamente assim que se iniciou o incêndio que derrubou o prédio no centro de São Paulo em maio de 2018. Será que agimos diferente do diretor do Museu da Língua Portuguesa, também em São Paulo, que ao contratar um profissional sem habilitação, permitiu que uma sobrecarga colocasse abaixo todo o trabalho de anos? Ou ainda, o diretor do Museu Nacional do Rio de Janeiro, que ao ignorar algumas informações, ou mesmo não conseguir instalar o sistema de combate a incêndio correto, contribuiu para a perda de valor inestimável para a cultura e a história nacional?

Creio que somos até piores que estas pessoas, pois quando negligenciamos, estamos brincando com a segurança de nossa própria família. Comece a agir de maneira correta e responsável pela sua casa e pelo seu condomínio. Há quanto tempo vocês – gestores e condôminos – não fazem uma reforma completa na instalação elétrica do prédio, aliás, vocês já a promoveram alguma vez?


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Autor

  • Edson Martinho

    Engenheiro Eletricista, é diretor-executivo da Abracopel (Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade). Escreveu e publicou o livro "Distúrbios da Energia Elétrica" (Editora Érica, 2009).

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